Profissionais se adaptam para o retorno das atividades de mais um ano letivo atípico devido à pandemia de Covid-19
Os bibliotecários são profissionais que buscam pautar suas ações baseadas em orientações advindas de diretrizes científicas. O principal documento norteador dessas ações é o protocolo de biossegurança elaborado por equipes multidisciplinares da área da saúde e pelas autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o Ministério da Saúde, as secretarias de saúde, além de prefeituras e governos estaduais.
De acordo com Álamo Chaves (CRB-6/2790), Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia do Estado de Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6), o bibliotecário precisa garantir as medidas de proteção coletivas e individuais mínimas nas bibliotecas – como implementar a aferição da temperatura de servidores, estudantes e colaboradores, assegurar a ventilação do ambiente e disponibilizar meios para que os usuários possam higienizar suas as mãos com água e sabão, ou com álcool em gel 70%, além de assegurar o uso permanente de máscaras de proteção e o distanciamento social.
“Acrescento, ainda, a necessidade de uso de equipamentos de proteção individual pelos funcionários das bibliotecas – como avental impermeável, óculos e/ou protetor facial, gorro, máscaras descartáveis, luvas, e também a necessidade de adquirir equipamentos de higienização de livros e assepsia de instrumentos de trabalho”, orienta.
Segundo a bibliotecária Marcelly Chrisostimo, o preparo e planejamento começou muito antes da liberação para o retorno às aulas presenciais. “Ao longo dos meses, foi possível observar a grande rede de colaboração e compartilhamento de informações que a classe formou em prol de levantar materiais bibliográficos, estudos de caso e, principalmente, fontes de informações confiáveis para fundamentar a elaboração de protocolos de reabertura que contemplariam as medidas necessárias para possibilitar a reabertura e minimizar o risco de contágio”, conta.
Para Elani Araújo, bibliotecária escolar infantil, os profissionais que atuam com a educação de crianças e jovens vivem uma realidade bem desafiadora, como a construção do protocolo de biossegurança. “Foi algo bastante complexo, pois tivemos de repensar sobre tudo à nossa volta e sobre nossas atividades, baseados em outros protocolos já pré-estabelecidos pelas organizações de saúde, estado, cidade e instituição”, explica.
“Com a aprovação deste documento norteador, me senti mais segura para retornar presencialmente com a prestação de serviços, uma vez que a instituição nos ofereceu o que era necessário, os colaboradores estavam treinados e as famílias estavam colaborando informando as crianças sobre as novas rotinas e possíveis adaptações”, conta Elani que trabalha na rede privada de ensino em Teresina, Piauí.
Os bibliotecários deverão determinar procedimentos de segurança baseados nas orientações estabelecidas nos protocolos. “Um exemplo é a limpeza da biblioteca, que deverá ser reforçada, e a desinfecção de livros emprestados durante a quarentena. Evidentemente, os bibliotecários deverão estabelecer novas rotinas de uso dos espaços das bibliotecas – o que implicará em menos usuários simultâneos – e o treinamento constante da equipe”, diz Álamo Chaves.
Ações e projetos criativos durante a pandemia
Praticamente todas as bibliotecas do país estão se adequando para retomar paulatinamente os serviços presenciais. Em determinado momento, os indicadores sanitários irão se restabelecer e possibilitar esse retorno dos trabalhos. Entretanto, vários projetos e ações surgiram durante a pandemia, com o objetivo de continuar o papel da biblioteca de forma virtual, por exemplo.
Por conta das restrições de uso de ambientes compartilhados e do acesso livre às estantes, houve um movimento importante e necessário das bibliotecas para além do espaço físico. De acordo com Marcelly, há relatos de bibliotecários que passaram a ir até as salas de aula (presencial ou virtual) para sessões de contações de histórias e auxílio nas pesquisas escolares. E, claro, além dos esforços incontáveis para garantir que os livros continuassem circulando e os alunos continuassem lendo como drive-thru literário, clube do livro (virtual ou nas salas de aula), gamificação, feiras do livro virtuais e inúmeras atividades adaptadas às novas condições.
“Eu acredito que a inovação não é necessariamente a criação de algo novo, mas, sim, a combinação de elementos já existentes propondo melhorias e uma pitada de essência”, diz a bibliotecária Marcelly Chrisostimo.
Um bom exemplo é o comunicado de reabertura da biblioteca e seus serviços por meio de autores convidados, informa a bibliotecária Elani Araújo. “Entramos em contato com alguns autores e pedimos para eles lerem um pequeno texto informativo, avisando sobre o retorno das atividades da biblioteca, nas redes sociais da escola. Estamos tendo um bom feedback”, afirma.
“Vale ressaltar que, pela minha experiência, os alunos têm nos surpreendido com a postura madura e colaborativa a esse ‘novo normal’. Então, por isso, os vejo muito mais abertos às atividades propostas”, relata Elani.
O Presidente do CRB-6, Álamo Chaves, cita o caso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que investiu mais de R$2 milhões na assinatura de plataformas multidisciplinares de livros digitais para suprir as demandas do ensino remoto.
“A UFMG adotou um sistema de atendimentos de forma agendada: o usuário que precisa de um material bibliográfico, como por exemplo, um livro, agenda o empréstimo daquela obra pelo sistema de gestão, disponível no site da biblioteca, e comparece no dia e horário agendados para buscar o material. Todos os funcionários das bibliotecas da UFMG foram treinados para atender seus usuários de forma remota e também para prestar apoio no uso das bases de dados assinadas”, explica.
Estratégia parecida foi adotada pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), que também assinou bases de dados que possibilitam o acesso a quase 20.000 obras. “Uma das plataformas assinadas disponibiliza ferramentas de marcação de texto, páginas e anotações e listas de leitura, além de várias funcionalidades, dentre elas, cartões de estudo, metas de leitura, leitura off-line, impressão de páginas, resenhas, possibilidade de compartilhar citações e trechos interessantes nas redes sociais e text to speech – uma ferramenta de acessibilidade para alunos surdos”, conta Alamo.
Outros projetos de destaque
O presidente do CRB-6 cita outros projetos de destaque desenvolvidos durante a pandemia. Saindo da esfera universitária, Alamo dá o exemplo da Biblioteca Central de Ideias do Instituto Usiminas, na qual os usuários podem realizar o empréstimo de livros por meio de “delivery”. Esse sistema consiste em um motoboy entregar aproximadamente 40 livros solicitados por semana na casa de 20 usuários. E, após duas semanas, o motoboy busca os livros nas casas dos leitores. O acervo de obras da biblioteca está disponível no site da instituição e o usuário também pode fazer contato por e-mail ou telefone. Ou seja, a biblioteca criou uma forma de atender seus usuários sem que eles precisem comparecer presencialmente para realizar o empréstimo.
Outra instituição, segundo Alamo, que tem realizado um trabalho interessante na comunidade em que está inserida é a Biblioteca Municipal Adelpho Poli Monjardim, de Vitória (ES), que criou uma versão virtual do projeto “Viagem pela Literatura”, no qual, semanalmente, contadores de histórias trazem uma nova narrativa para que os pais possam ouvir e interagir de forma lúdica com as crianças. O projeto visa incentivar a prática da leitura, além de estimular a imaginação e a criatividade das crianças durante o período de isolamento social.
Temos também a Biblioteca Pública de Araxá, na qual o usuário pode interagir e solicitar serviços de forma autônoma. De acordo com Alamo, o acervo é totalmente informatizado e está disponível no site da prefeitura da cidade. O usuário pode consultar a obra pelo site e solicitá-la por um número de WhatsApp. Dessa forma, a biblioteca proporciona que o usuário usufrua dos principais serviços oferecidos, de modo a evitar aglomerações durante o período da pandemia.